Lavando a louça de forma sustentável.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Lavar louça é algo tão comum e parece ser uma coisa tão inofensiva que nem dá para medir os impactos ambientais que esse hábito pode causar. 

Normalmente a maioria das pessoas usa detergente para lavar a louça, mas será que essa é a opção mais sustentável? O blog Químico Estudante, novo parceiro do blog Química Sustentável, publicou um texto muito interessante que fala a respeito dos impactos que o detergente e o sabão em barra podem causar ao meio ambiente e mostra de forma bem clara qual a melhor opção para lavar a louça de forma sustentável.
Os sabões e os detergentes são usados para remover sujeiras e, principalmente, gorduras dos materiais. Mas qual é a diferença entre os dois? Há mais vantagem em se usar o sabão ou o detergente? E com relação ao meio ambiente? Qual polui menos?

Vejamos a estrutura de cada um, para chegarmos a uma resposta satisfatória. 

Os sabões possuem a seguinte estrutura típica:



Observe que ele possui uma parte apolar, representada pela cor azul, que interage com a gordura e com o óleo, que também são apolares; e apresenta uma parte polar, em amarelo, que interage com a água, que por sua vez também é polar. É só  lembrar do conceito: “Semelhante dissolve semelhante”.

A estrutura dos detergentes também possui uma parte polar e uma apolar, conforme pode ser visto a seguir:



O ponto ao qual queremos chamar a atenção, e que pode ser observado pela comparação entre as duas estruturas, é que os detergentes mais comuns são sais derivados do ácido sulfúrico (H2SO4), que é um ácido forte e traz mais danos ao meio ambiente. Por isso, há a presença do enxofre (S) na estrutura do detergente. A matéria-prima básica dos detergentes é o petróleo, que é um recurso energético fóssil não renovável.

Além disso, o caso mostrado acima é de um detergente biodegradável, porém existem alguns detergentes, que são aqueles que apresentam ramificações na sua estrutura, que não são biodegradáveis, ou seja, não são degradados pelos microrganismos e se forem despejados em rios e lagos podem causar graves efeitos ambientais com consequente morte de diversos peixes, algas, insetos e aves aquáticas.

Detergente não biodegradável

Já os sabões são feitos de óleos ou gorduras que reagem com uma base forte, como o hidróxido de sódio (NaOH). Assim, os sabões são sais de ácidos carboxílicos, que são ácidos fracos. Na estrutura desses sabões, o hidrogênio do grupo carboxílico (─COOH) é substituído por íons sódio (Na+), potássio (K+) ou amônio (NH4+), como mostrado a seguir. O resultado é que todos os sabões são biodegradáveis.


Os sabões são sais de ácidos carboxílicos em que o hidrogênio do ácido é substituído por um cátion. Outro ponto negativo em relação aos detergentes é que muitos deles contêm íons fosfato em sua estrutura. Esses íons são utilizados pelas algas como nutrientes, assim, com esses detergentes sendo despejados nos rios, seus íons fosfato vêm aumentando drasticamente e essas algas se multiplicam em larga escala. Esse processo é denominado eutrofização e provoca a morte de peixes e outros seres vivos aquáticos, pois as algas vão cobrir as superfícies dos lagos, impedindo a entrada de luz e oxigênio na água. Dessa forma, se olharmos a questão ambiental, o sabão em barra é a melhor opção.

Foto: http://ramonlamar.blogspot.com.br



Mas e quanto à eficiência?

Bom, os sabões apresentam uma desvantagem quando a limpeza é feita com água que contenha cátions de cálcio, magnésio e ferro, pois os ânions dos sabões podem reagir com esses cátions, originando compostos insolúveis, que se precipitam e formam a chamada água dura. Dessa forma, os sabões não conseguem remover a sujeira e a gordura. Já os detergentes têm a vantagem sobre os sabões de que eles nunca reagem com os cátions da água dura e, portanto, realizam a limpeza independentemente da água usada. 

Mas o que faz com que os detergentes tenham a capacidade de remover a gordura de objetos sujos enquanto que a água sozinha não tem essa capacidade?

Bom, a água é uma substância polar e as gorduras são apolares. Assim, a água não consegue interagir com as gorduras, pois não tem afinidade com elas. Além disso, a água possui uma tensão superficial que a impede de penetrar em certos tipos de tecidos e outros materiais. Porém, aí surge outra pergunta: o que é essa tensão superficial?

As moléculas de água se atraem mutuamente e, como existem moléculas para todos os lados, essa atração, denominada força de coesão, ocorre em todas as direções; exceto no que tange às moléculas da superfície. Visto que essas moléculas não têm outras moléculas de água acima delas, as suas forças de coesão para os lados e para baixo se intensificam, criando, assim, uma espécie de película na superfície da água, que é a tensão superficial.

Essa tensão superficial é a responsável por mosquitos conseguirem se deslocar por cima da água. É responsável também por materiais leves, como agulhas e moedas, flutuarem na água e, além disso, a tensão superficial constitui um dos fatores que dificultam a limpeza somente com o uso da água.

Tensão superficial da água. Foto: http://gizmodo.uol.com.br


E como os detergentes e os sabões resolvem essa questão da tensão superficial e da polaridade?

Conforme dito, eles possuem duas partes distintas em sua estrutura, sendo que a parte polar é também hidrofílica, ou seja, possui afinidade com a molécula de água, porém não interage com as moléculas da gordura. Já na parte apolar ocorre exatamente o contrário, pois é uma parte hidrofóbica – não interage com a água, mas tem afinidade com as moléculas de gordura.

Micela formada por moléculas de detergentes
dispersas em água.
Foto: http://www.alunosonline.com.br
Assim, o que acontece é que quando adicionadas na água, as moléculas dos detergentes se distribuem ao redor das moléculas de gordura, formando pequenos glóbulos, denominados micelas. 

A parte apolar das moléculas do detergente fica voltada para o interior do glóbulo, em contato com a gordura; enquanto que a parte hidrofílica ou polar fica voltada para o exterior, em contato com a água. 

Dessa forma, quando se “arrastam” as micelas de detergente, removem-se também a gordura junto, pois ela estará aprisionada na parte hidrofóbica, isto é, na região central da micela.


No que diz respeito à tensão superficial da água, os detergentes têm a capacidade de diminuir essa tensão, facilitando, assim, com que a água penetre em vários materiais para remover a sujeira. É por isso que o sabões e os detergentes são chamados de agentes tensoativos ou surfactantes, sendo que essa última palavra vem do inglês surface active agents = surfactants.

Esse é um dos fatores que ameaçam o meio ambiente, pois quando os detergentes são despejados em rios e lagos, o deslocamento dos insetos sobre a água é dificultado, o que pode diminuir a população de insetos e causar um desequilíbrio no ecossistema.

Por Jennifer Rocha Vargas Fogaça.

             http://www.alunosonline.com.br

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